Elide, conte-me sobre seus sonhos
Em dezembro de 2018, aos 79 anos, Elide saiu de bicicleta para afiar uma faca de jardinagem, e seu coração parou no caminho. No desejo de preservar seus últimos vestígios, comecei a fotografar sua casa, que permaneceu inalterada três meses após sua morte. A cada visita, uma pergunta me perseguia: quem era Elide de fato? Quem era ela além dessa figura admirada por sua devoção inabalável à família? Nunca tire conversas intimas com minha tia, e minas tentatives de discourir alto com os próximos néo deram Frutos. O único indício de um sentimento de satisfação que ia além da esfera doméstica era em em suas viagens familiares a lugares sagrados.
Percebo então esse espaço, situado entre a casa e o jardim em que ela viveu por muito tempo, como um microcosmo onde as frustrações e os desejos mais profundos se cruzam. Dando lugar de destaque à imaginação e à subversão, criei, por meio de minhas fotografias e arquivos de família, uma espécie de narrativa poética e crítica, abrigando o reverso de uma intimidade não revelada e misteriosa, mas que, quero acreditar, realmente existiu.